Salvador

MPBA pede proteção da área que pode abrigar maior cemitério de escravizados da América Latina

Localizado no estacionamento da Pupileira, o cemitério deve abrigar mais de 100 mil corpos de escravizados

cemitério

O Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA) oficiou na tarde desta segunda-feira, dia 26, a Santa Casa de Misericórdia da Bahia para que não utilize mais a área onde ocorreram as primeiras escavações no espaço que pode abrigar o maior cemitério de escravizados da América Latina.

Durante coletiva de imprensa realizada na tarde de hoje, 26, na sede do MPBA, em Nazaré, as promotoras de Justiça Cristina Seixas e Lívia Vaz junto com a pesquisadora Silvana Olivieri, a arqueóloga Jeanne Dias e o professor Samuel Vida apresentaram os desdobramentos das primeiras intervenções no local que poderá se tornar o ‘Sítio arqueológico Cemitério dos Africanos’.

Foto: Flavia Maciel

“Vamos esperar que o sítio arqueológico seja registrado no Iphan e em breve faremos uma audiência pública para discutir com a sociedade e as entidades envolvidas os próximos caminhos para a preservação do local como um bem de natureza cultural material e também imaterial”, afirmou a promotora de Justiça Cristina Seixas.

Localizado no estacionamento da Pupileira, o cemitério deve abrigar mais de 100 mil corpos de escravizados, pessoas que viviam à margem da sociedade, como pobres, indigentes, não-batizados, excomungados, suicidas, prostitutas, criminosos e insurgentes.

O processo para reconhecimento do sítio arqueológico foi encaminhado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e, caso seja reconhecido, o local será conhecido como ‘Sítio arqueológico Cemitério dos Africanos’.

A redescoberta

O cemitério foi redescoberto na área onde hoje funciona o estacionamento da Pupileira, área pertencente à Santa Casa, no centro de Salvador. As escavações duraram dez dias.

A primeira intervenção no solo teve 1×3 metros de diâmetro e a segunda teve de 2×1 metros, e foi nesse espaço, a 2,7 metros de profundidade que os arqueólogos localizaram os as primeiras ossadas, incluindo ossos largos e dentes.

De acordo com os pesquisadores, o terreno ácido e úmido deixou o material extremamente frágil e, por se tratar de um patrimônio sensível, a equipe de arqueólogos optou por não divulgar imagens das ossadas e nem retirá-las do local. Foi colocada uma cobertura nas ossadas encontradas que ajudará na preservação do material que não foi retirado em razão do estado frágil.

Foto: Flavia Maciel

Outros pequenos fragmentos de ossos encontrados pelos pesquisadores serão encaminhados para a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e permanecerão guardados lá até serem decididos os novos passos da pesquisa.

“A partir dessa positivação das suspeitas que havia em relação à existência desse cemitério, o Ministério Público agora adotará providências para preservar esse local, que já deve ser considerado um sítio arqueológico. Daqui para frente temos muitos caminhos de como construir coletivamente essas soluções e o Ministério Público inicia um processo no sentido de respeito a todos os interesses dos grupos envolvidos nessa descoberta”, destacou a promotora de Justiça Lívia Vaz.

De acordo com Silvana Olivieri, a partir da sobreposição de mapas históricos, análise de registros da Santa Casa e estudos arqueológicos, o local foi identificado como parte do antigo Cemitério do Campo da Pólvora, que teria funcionado entre o final do século XVII e meados do século XIX.

“Esse cemitério foi invisibilizado por camadas de aterro que escondiam a verdadeira história da cidade. Mas ele estava ali, esperando ser encontrado. Estamos diante de uma reparação histórica”, declarou o arqueólogo Luiz Antônio Pacheco.

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