Veja o resumo da noticia
- A esteatose hepática, crescente nas últimas décadas, é uma condição prevalente e frequentemente subestimada, impulsionada por hábitos de vida inadequados.
- O acúmulo de gordura no fígado, se não tratado, pode levar a complicações graves como inflamação, fibrose, cirrose e aumentar o risco de morte.
- O diagnóstico precoce da esteatose, frequentemente silenciosa, combina histórico clínico, exames laboratoriais e de imagem para detectar a condição.
- A mudança no estilo de vida, com dieta equilibrada, exercícios e controle de comorbidades, é fundamental para o tratamento da esteatose.
- A detecção e intervenção precoces são cruciais para evitar danos irreversíveis e melhorar a qualidade de vida dos pacientes com esteatose.

Conhecida popularmente como “fígado gorduroso”, a esteatose hepática está entre as doenças do órgão mais frequentes na atualidade, mas ainda pouco compreendidas pela população. Um levantamento publicado na revista Hepatology mostra que a prevalência global da forma não alcoólica cresceu de 25,26% (entre 1990 e 2006) para cerca de 38% (2016–2019), sinalizando um avanço consistente ao longo das últimas décadas.
Já as revisões mais recentes classificam o cenário como uma epidemia silenciosa, com impacto crescente para os sistemas de saúde.
“Muitas pessoas acreditam que apenas quem bebe muito corre o risco de ter gordura no fígado, mas não é verdade. O estilo de vida sedentário e a má alimentação são causas cada vez mais comuns e podem afetar pessoas de qualquer idade”, explica a endocrinologista Natalia Cinquini, consultora médica do Sabin Diagnóstico e Saúde.
Quando a presença de gordura ultrapassa 5% da composição hepática, aumentam os riscos de complicações. Sem controle, a condição pode evoluir para inflamação do fígado (esteato-hepatite), fibrose, cirrose e, em casos extremos, câncer hepático.
Complicação em outros órgãos
A doença aumenta também o risco de complicações em outros órgãos. Estudos conduzidos pelo Instituto Karolinska e publicado no The Journal of Hepatology mostram que indivíduos com esteatose têm mortalidade quase 1,85 vezes maior do que pessoas sem o quadro, ou seja, quase o dobro de risco de morte, inclusive por doenças cardiovasculares e cânceres não hepáticos.
Isso mostra que o impacto vai além do fígado, afetando todo o organismo, mas, apesar disso, a doença segue pouco compreendida. Pesquisa Datafolha revela que 62% dos brasileiros se dizem preocupados com a gordura no fígado, mas apenas 7% receberam diagnóstico médico. Cerca de 60% afirmam não saber qual exame detecta a condição.
Sintomas e diagnóstico
O grande desafio da esteatose hepática é o caráter silencioso nos estágios iniciais. Quando os sinais surgem, costumam incluir cansaço persistente, fraqueza, perda de apetite, aumento do volume abdominal e inchaço. O diagnóstico combina histórico clínico, exames laboratoriais e exames de imagem.
Testes de sangue podem indicar alterações no funcionamento do fígado e a ultrassonografia abdominal ajuda a confirmar a presença de gordura. Em situações específicas, médicos podem solicitar elastografia ou biópsia hepática para avaliar o grau de comprometimento do órgão.
“Essas ferramentas permitem identificar precocemente a doença, mesmo quando não há sintomas, aumentando as chances de controlar ou reverter o quadro antes que surjam complicações graves”, reforça a médica.
Prevenção e tratamento
Até o momento, não há medicamento específico aprovado para tratar a esteatose hepática. O manejo mais eficaz é a mudança de hábitos de vida, que protege o fígado e traz benefícios a todo o organismo.
Entre as recomendações estão manter o peso adequado, adotar alimentação equilibrada (rica em frutas, verduras, legumes e fibras), reduzir ultraprocessados e álcool, praticar atividade física regular e tratar comorbidades como diabetes e hipertensão, com acompanhamento médico.
“Com acompanhamento adequado, é possível estabilizar ou até reverter a gordura no fígado. Mesmo em casos já avançados, como a cirrose, há medidas que ajudam a melhorar a evolução e preservar a qualidade de vida”, acrescenta Natalia Cinquini.
A detecção precoce faz diferença: pacientes identificados nos estágios iniciais apresentam maiores chances de regressão com intervenção adequada. Por isso, especialistas recomendam incluir avaliações hepáticas preventivas na rotina, especialmente em pessoas com fatores de risco metabólicos.
Exames laboratoriais (como análise de enzimas hepáticas), bem como métodos de imagem são valiosos para monitorar o fígado e orientar intervenções no momento certo.
“O diagnóstico precoce é a chave. Quanto antes o problema for identificado, maiores as chances de evitar danos irreversíveis”, conclui a especialista.


