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Como afastar os filhos dos perigos da internet e trazê-los um pouco mais para o 'mundo real'?

Recentemente, criança de 8 anos morreu após fazer "desafio" do TikTok

Foto: Reprodução/Freepik
Foto: Reprodução/Freepik

As chamadas “trends” vêm bombardeando as redes sociais dos jovens que utilizam, principalmente, TikTok e Instagram. São os desafios de internet que, algumas vezes, fazem os usuários se submeterem a situações perigosas.

Um exemplo disso é o “desafio do desodorante”, conhecido no TikTok, que consiste em uma competição para ver quem consegue inalar grandes quantidades do produto químico no menor tempo. É exatamente esse desafio apontado como motivação da morte da pequena Sarah Raíssa Pereira de Castro, de apenas 8 anos. O corpo da menina foi encontrado pela avó, deitado no sofá, com um desodorante ao lado.

Entre os desafios mais perigosos, além do que envolve o desodorante, também está o “desafio Benadryl”, que consiste na ingestão em altas quantidades do medicamento antialérgico de mesmo nome para induzir alucinações.

Outros em alta no TikTok são o “desafio da rasteira” – ou “quebra crânio” – e o “desafio do apagão”, onde o usuário deve mostrar aos seguidores por quanto tempo foi possível ficar sem respirar. Segundo um levantamento da Bloomberg Businessweek, entre 2021 e novembro de 2022, pelo menos 15 crianças com até 12 anos, e cinco adolescentes, de 13 ou 14 anos, morreram após participar do “desafio do apagão” nas redes sociais.

Diante de tantas “brincadeiras” perigosas na internet, além dos criminosos que se escondem atrás das telas, os pais começam a ter uma onda de medo pelo que está diante dos olhos dos filhos todos os dias. Em conversa com o PS Notícias, o pedagogo e mediador de conflitos, Sérgio Pires, deu algumas dicas de como tentar manter as crianças e os adolescentes longe dos problemas na web e como trazê-los para a vida fora da internet.

Antes de tudo, ele pontua que as redes sociais têm grande impacto na saúde mental e no desenvolvimento de crianças e adolescentes, por isso, é realmente necessário ter atenção.

“Os pais devem agir de forma clara e aberta com os filhos, os assuntos devem ser falados e pensados juntos, a empatia deve ser fator preponderante nas relações. Os responsáveis devem criar e fazer acontecer o ‘escutar os filhos’ sempre”, aconselha.

Devo proibir meu filho de usar celular?

Vá com calma. Segundo o pedagogo, partindo do pressuposto de que o “proibido é mais gostoso”, é justamente nessa armadilha que as crianças vem caindo com a internet.

“O monitoramento deve acontecer sempre com a tal ‘liberdade vigiada’. Podemos listar alguns pontos de reflexão. Vamos trocar o ‘tirar o acesso’ por ‘usar de forma consciente’, ensinando os filhos sobre os efeitos negativos das redes sociais, como comparação social, ansiedade e cyberbullying. Conversas abertas sobre esses temas podem ajudar as crianças a entenderem a importância de um uso consciente”, explica.

Outro aconselhamento do pedagogo é substituir a ideia de “tirar o acesso ao celular” por “limitar o tempo de tela”, estabelecendo regras claras sobre o tempo que os filhos podem passar nas redes sociais.

Como conversar com o meu filho?

Incentivar as crianças a compartilharem suas experiências e sentimentos é muito importante. “Perguntar sobre quem eles seguem, o que compartilham e como se sentem ao usar essas plataformas pode proporcionar insights valiosos”, conta.

Como agir diante dos filhos?

Segundo Pires, os pais, muitas vezes, modelam o comportamento dos filhos, é por isso que é importante dar o exemplo. Promover momentos em família que não envolvam tecnologia, como passeios ao ar livre, refeições sem dispositivos ou noite de jogos são boas opções para trazer os jovens um pouco mais para a ‘vida real’.

“Os pais devem modelar um comportamento saudável em relação ao uso das redes sociais. Se os pais estão frequentemente conectados, é menos provável que as crianças vejam valor em se desconectar”, explica.

Além disso, os pais também devem ficar atentos ao “mundo” e aos fatos atuais para também estarem ligados em que “universo” os filhos estão vivendo.

Quais opções eu tenho para afastá-los um pouco das telas?

Oferecer atividades alternativas é uma boa ideia. O pedagogo explica que os jovens podem ser incentivados a ter novos hobbies e atividades fora do ambiente digital, como esportes, leitura, artes ou jogos de tabuleiro.

“Isso não só diminui o tempo nas redes sociais, mas também promove habilidades sociais e físicas”, diz.

Quais medidas devem ser tomadas para evitar que meu filho tenha um “vício” precoce da internet?

O pedagogo dá as seguintes dicas:

  • Evite telas para bebês. Parece não haver problema, mas existem recomendações para que crianças menores de 18 meses não tenham exposição a telas, exceto para videochamadas. Para crianças de 2 a 5 anos, o tempo de tela deve ser limitado a uma hora por dia de conteúdo de alta qualidade.
  • Incentive a leitura desde cedo. Livros são uma ótima maneira de estimular a imaginação e o desenvolvimento cognitivo. Além disso, brincar com brinquedos físicos, jogos de tabuleiro e atividades ao ar livre pode ser muito mais benéfico do que o tempo na tela.
  • Estabeleça você mesmo áreas da casa onde não permite o uso de dispositivos, como durante as refeições ou antes de dormir. Isso ajuda a criar hábitos saudáveis.
  • O exemplo. Mostre comportamentos equilibrados em relação ao uso da tecnologia e envolva-se em atividades off-line.
  • Defina limites para o uso do celular e outras telas, como horários específicos e duração do uso.
  • Periodicamente revisar as contas e interações dos filhos nas redes sociais para garantir que eles estejam seguros e fazendo escolhas saudáveis.

“Lembre-se de que a abordagem deve ser sempre baseada na confiança e no diálogo, evitando uma fiscalização excessiva que possa levar à rebeldia ou desconfiança”, aconselha o pedagogo Sérgio Pires.

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