Semana Fashion Revolution Brasil

O que acontece com os abadás após o Carnaval de Salvador?

Ao PS Notícias, os participantes do bate-papo da Semana Fashion Revolution, esclareceu sobre o passo inicial que um cidadão pode dar para a reciclagem desses tecidos

Foto: PS Notícias
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O Carnaval de Salvador é mais do que a maior festa popular da cidade, é um símbolo de expressão cultural, identidade e potência econômica. No entanto, por trás do brilho, da música e da alegria, um problema ambiental cresce a cada ano: a destinação dos resíduos têxteis.

Um bate-papo realizado na quinta-feira (24) discutiu o tema durante a Semana Fashion Revolution 2025, com mediação de Marina de Luca – coordenadora do Fashion Revolution Brasil e fundadora do curso Moda Limpa e pesquisadora de moda e sustentabilidade. O evento aconteceu na sede da Secretaria Municipal de Sustentabilidade, Resiliência e Bem-Estar e Proteção Animal (Secis), em Salvador.

O intuito foi mapear os desafios e oportunidades da cidade diante dos resíduos têxteis, relacionados aos abadás, propondo soluções coletivas e sistêmicas que respeitem tanto o meio ambiente quanto a cultura.

Só em 2025, estima-se que os fabricantes produziram cerca de 390 mil abadás para o Carnaval da cidade. Produzidos majoritariamente de poliéster, fibra sintética derivada do petróleo, geralmente esses tecidos têm uso único, gerando uma enorme quantidade de lixo após o evento. A customização de abadás também resulta em sobras de tecido e retalhos que, muitas vezes, acabam descartados inadequadamente. O poliéster pode levar de 200 a 400 anos para se decompor, liberando microplásticos durante sua produção, uso e descarte.

A campanha do Fashion Revolution deste ano destaca o tema “Pense Global, Aja Local”; além disso, convida a uma reflexão urgente sobre o impacto da moda e seus resíduos, particularmente em eventos de grande porte como o Carnaval de Salvador.

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Qual o primeiro passo?

Ao PS Notícias, os participantes do bate-papo evidenciaram algumas movimentações da população para solucionar esses resíduos têxteis.

Aparecida Queiroz, uma das fundadoras do Projeto Refoliar, enfatizou a importância da educação ambiental.

“Sem educação ambiental, nada acontece. E não é só o abadá. Quando ele começa a entender que as coisas podem ter uma vida mais útil, ele vai fazer primeiro uma escolha melhor. Hoje a moda rápida é algo que movimenta um absurdo e é logo descartável. Antigamente não. Se pegava uma roupa e ia de mãe para filhos. Então, primeiro de tudo, educação ambiental e oferecer oportunidades para que ele conheça o reaproveitamento. Como que eu posso, se a minha calça rasgou aqui, como é que eu posso fazer um bordado, como eu posso reaproveitar isso? Então a minha contribuição seria um investimento em educação ambiental em massa”, apontou Aparecida.

O Refoliar aplica o conceito de upcycling ao reaproveitar abadás, transformando-os em mochilas doadas para escolas públicas. A proposta busca transmitir afetividade e conexão com a história do Carnaval.

Responsável pelas relações públicas do projeto Repense Reuse, da Humana Brasil, Hilza Cordeiro orienta o folião a procurar o poder público e cobrar melhorias para o setor. “O cidadão pode chegar nas redes sociais dos camarotes e blocos e também em canais oficiais da Prefeitura e exigir melhores soluções contra esse lixo”, sugeriu.

O projeto Repense Reuse, é uma iniciativa que recolhe roupas, calçados, artigos de cama e acessórios para promover a economia e a sustentabilidade circularem.

Além disso, também participou do evento, o líder de Negócio da Sotero Ambiental, Carlos Viana Neto. A empresa é responsável pela limpeza urbana e coleta de resíduos sólidos em metade do município de Salvador. Sua atuação é baseada na sustentabilidade, com foco no desenvolvimento urbano, no bem-estar da população e na preservação ambiental.

“As pessoas falam em consciência, mas poucos fazem. Então, quem é que vai no supermercado e olha na prateleira e faz a opção por um produto com selo ‘Eu reciclo’? Quantas pessoas? Aqui em Salvador, a prefeitura teve uma iniciativa muito boa da retirada das sacolas plásticas dos supermercados. E com pressão, teve que retroceder. Então, poucos querem, ou muitos querem, poucos fazem, efetivamente. Solução? Tem para tudo”, provocou Viana.

Também marcou presença no evento Loyola Neto — sócio-fundador da Loygus e CEO das startups Ecoloy Salvar e DuMar, além de cofundador da Liga do Bem. Empresas que já desenvolvem uma tecnologia para os abadás do Carnaval 2026 que será divulgada em breve.

Atualmente, Loyola Neto também atua como diretor da Fecomércio-BA e Conselheiro do Sesc Bahia.

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Para além dos abadás

Outro projeto da moda sustentável, é o Milieco, desenvolvido por Dija Costa, que transforma fardamentos de policiais e bombeiros militares em acessórios de moda. Além disso, a iniciativa conquistou, em 2020, o Prêmio Ozires Silva de Inovação, Empreendedorismo e Sustentabilidade, por dar outra destinação aos uniformes oficiais além da incineração. Dija também é contadora e Embaixadora Lixo Zero.

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