A Associação dos Blocos de Salvador (ABS) e o Conselho Municipal do Carnaval e Outras Festas Populares (Comcar) estão debatendo o uso da corda de isolamento durante os desfiles de trios elétricos no Carnaval de Salvador.
A proposta da ABS, que defende a permanência da não obrigatoriedade do uso da corda, se junta a outras 68 sugestões apresentadas durante o Seminário das Comunidades Carnavalescas, realizado no início do deste mês.
Em conversa com o PS Notícias, o conselheiro da ABS, Albry Anunciação, disse que a entidade quer que o uso ou não uso de cordas seja uma decisão unicamente dos blocos e não uma imposição. O que ele classifica como “formato livre do tema ou simbolismo”.
Segundo Albry, os blocos querem ter o direito de escolha da forma como querem participar dos desfiles de Carnaval e que o simbolismo da festa vai muito além do uso de cordas e trios de forma obrigatória.
“Entendemos que entidade carnavalesca, pode ser identificada por denominação de fantasia, inscrito para participar dos desfiles de carnaval. Blocos e seus associados possam desfilar de qualquer forma de identificação (pulseira, abadá, indumentárias, fantasia e etc.) podendo utilizar trio elétrico, carro de som, banda, percussão ou outra forma de expressão musical, podendo utilizar ou não cordão de isolamento, de acordo com sua tradição”, explica o conselheiro.
O que está em discussão
Apesar do artigo 10º do Regimento do Conselho Municipal do Carnaval e Outras Festas Populares (Comcar) permitir o desfile de entidades sem a utilização do cordão de isolamento, esse assunto voltou a ser discutido nos últimos meses.
No regimento citado, proposto em 29 de abril de 2015, o requisito para que o desfile sem cordas aconteça é que a entidade tenha desfilado por pelo menos por 10 anos ininterruptos e que a autorização tenha sido aprovada previamente pela assembleia da categoria específica e validada pela Assembleia Geral anual do desfile.
No entanto, Albry afirma que atualmente há um desejo do Comcar para que esse artigo seja revogado durante a atualização das regras de desfiles.
O presidente do Comcar, Washington Paganelli, em entrevista ao PS Notícias, defendeu a cadeia produtiva por trás do cordão de isolamento e destacou algumas como o setor de costura, customização, segurança, limpeza e do próprio folião que financia os blocos. Segundo ele, uma média de 15 a 20 mil pessoas trabalham por dia no Carnaval segurando as cordas.
“Esses blocos que pediram são essas associações que não são blocos e a outra associação que é um grupo de manifestações culturais que desfilam no Pelourinho, que também já não usam cordas. O que o Comcar está fazendo, até junto com o Ministério Público, é definir o que é bloco. O Comcar entende que existem blocos, como os blocos afro, que não usam cordas, não teriam que usar também, mas os blocos maiores, os blocos que se denominam blocos de trio elétricos, aí sim cada bloco com sua característica. Não é você chegar e passar a régua ‘a partir de hoje todo mundo tem que ter isso, tem que ter aquilo’, cada bloco é diferente. Tem bloco que tem trio, tem bloco que tem percussão, tem bloco que é sopro, tem bloco que é de samba, tem bloco que é afro, que é afoxé, que é indígena, então cada bloco terá sua denominação em cada categoria”, explica Paganelli.
Seminário da comunidade carnavalesca
Entre os dias 5 e 8 de maio deste ano, 150 representantes de entidades se reuniram para propor 69 sugestões no 1º Seminário da Comunidade Carnavalesca, coordenado pela Associação dos Blocos de Salvador (ABS) e pela Associação das Entidades de Matriz Africana (Acema).
Porém, o Comcar não reconheceu a legitimidade do seminário e, à reportagem, o presidente disse que um novo Fórum no Carnaval já está sendo preparado para acontecer entre os meses de agosto e setembro com a presença de entidades, representantes da categoria, representantes políticos e imprensa.
“O verdadeiro debate do Carnaval é feito nas reuniões, nas assembleias e no Fórum do Carnaval, que é algo legítimo, que é produzido pelo Conselho Municipal do Carnaval, em que participam os órgãos públicos, a imprensa, empresários, produtores, artistas. […] É um encontro que abrange toda a cadeia produtiva do Carnaval, não apenas uma associação que não tem representatividade quase que nenhuma desde quando ela não cumpre as exigências”, disse Paganelli.
Os rumos do Carnaval
Discussões sobre o futuro da folia soteropolitana vêm sendo feitas desde antes do Carnaval de 2025, quando se cogitou a possibilidade da criação de um novo circuito carnavalesco.
Porém, essa e outras discussões serão debatidas durante a audiência pública, realizada pelo MP, marcada para dia 17 de junho, para que as propostas sejam avaliadas e discutidas com a presença do Comcar e dos representantes das entidades.
Segundo o presidente do Comcar, o Ministério Público deseja organizar a festa.
“O Ministério Público vem na necessidade de moralizar o Carnaval, de democratizar o Carnaval, de regulamentar, de ‘ajeitar’ o Carnaval, não deixar que essas coisas erradas desses pequenos grupos venham acontecendo, certo? O Ministério Público está tomando a frente e vai regularizar, vai normatizar junto com o Comcar, com os conselheiros e moralizar o Carnaval, para que essas pessoas não fiquem tirando proveito da festa e benefícios próprios”, frisa Paganelli.
O líder do Conselho Municipal do Carnaval e Outras Festas Populares disse, ainda, que na audiência pública, cada entidade vai poder apresentar as propostas e a partir disso o Comcar entrará em consenso com a maioria e assim definir os rumos da festa.
“Haverá no Ministério Público, audiência pública, aberta para todo mundo, para todo público, não só comunidade carnavalesca, como foliões, imprensa e todos aqueles interessados no Carnaval, para discutirmos. Nós vamos regulamentar, o Ministério Público também entende assim, todo mundo entende, todo mundo quer, a maioria quer, que o Ministério Público ouça todos, e que daí, a depender das categorias cada uma tem a sua originalidade, os blocos afro, os afoxé, dos blocos indígenas… cada um obedecendo a sua originalidade”, relata o presidente da Comcar.
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