Pode substituir?

IA como psicólogo? Entenda riscos de fazer 'terapia' com a tecnologia

Jovens vem utilizando Inteligência Artificial para conselhos "terapêuticos"

Foto: Freepik
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A busca pela Inteligência Artificial (IA) vem se tornando algo comum para as tarefas mais básicas até as de mais alta complexidade. A tecnologia vem se tornando um suporte para jovens e adultos que desejam ter respostas e soluções rápidas e, não à toa, passou a ser uma ferramenta usada por aqueles que precisam de aconselhamentos no mesmo instante.

Em uma geração onde a ansiedade é um dos males do século, é comum que procurem a resolução de problemas ou a sensação de bem-estar imediatas. Por isso, o IA vem se tornando a nova “terapeuta” dos jovens.

Nas redes sociais, usuários estão ensinando os seguidores a programar a IA para agir como um terapeuta clínico especializado em tratamento de ansiedade ou depressão. Apesar de alguns fazerem elogios ao novo “método terapêutico”, a ação é um grande problema para quem precisa de tratamento.

Ao PS Notícias, a psicóloga Carmen Rezende explica que o uso da IA como substituto para a terapia apresenta riscos significativos.

“Quando jovens ensinam a ‘programar’ uma IA para agir como terapeuta, estão criando uma ilusão perigosa de cuidado psicológico. A diferença fundamental entre um psicólogo e uma IA é que nós, psicólogos, temos formação específica, experiência clínica supervisionada, e capacidade de percepção emocional genuína. A IA não possui consciência emocional real. Ela simula empatia através de padrões linguísticos”, explica.

A profissional também afirma que um diferencial é a capacidade dos psicólogos de perceberem nuances não-verbais, comportamentos do paciente, além de adaptar intervenções em tempo real.

“Além disso, a IA não tem capacidade de realizar avaliações clínicas precisas, podendo negligenciar sinais de risco como ideação suicida ou sintomas graves que exigiriam encaminhamento médico”, diz a psicóloga.

Sensação de bem-estar

Apesar de usuários terem afirmado ter tido bons conselhos da IA nos momentos necessários, a dra. Rezende garante que a sensação de alívio que algumas pessoas relatam é compreensível, mas momentâneo.

Segundo a psicóloga, esse bem-estar acontece por três fatores:

  • O ato de expressar pensamentos e sentimentos – mesmo para uma máquina – proporciona um alívio “catártico inicial”, ou seja, a sensação momentânea de alívio emocional que uma pessoa pode experimentar ao externalizar seus pensamentos e sentimentos.
  • A IA oferece respostas imediatas e disponibilidade constante
  • A ausência de julgamento percebido cria uma falsa sensação de segurança

“Esse bem-estar é geralmente superficial e temporário. A terapia real não visa apenas o conforto imediato, mas transformação duradoura através de um processo estruturado que envolve autoconhecimento, desenvolvimento de habilidades e mudanças comportamentais”, explica.

Além disso, em casos de transtornos mentais, confiar exclusivamente na tecnologia pode retardar a busca por tratamento adequado.

Ameaça à psicologia?

Apesar de alguns usuários tentarem substituir terapeutas pelo IA, a dra. Carmen não considera a tecnologia uma ameaça à psicologia, mas uma ferramenta complementar que pode ajudar no monitoramento entre sessões de terapia ou exercícios terapêuticos estruturados. A máquina, contudo, não substitui o profissional, essencial para a psicoterapia.

“Nossa profissão precisará evoluir para incorporar essas tecnologias de forma ética, mas o núcleo do trabalho psicológico, a conexão humana autêntica, permanecerá insubstituível”, opinou.

Terapia para questões cotidianas

Segundo a psicóloga, mesmo para aqueles que não possuem transtornos diagnosticados, é importante fazer terapia, visto que se torna um “espaço de autoconhecimento, desenvolvimento pessoal e aprendizado de habilidades para lidar com desafios cotidianos”.

Além disso, o psicólogo oferece um “olhar externo qualificado”, ajudando o paciente a identificar padrões de pensamento e comportamento que podem estar limitando o potencial da pessoa.

Conforme a dra. Carmen, a terapia também pode trazer outros benefícios, como estratégias de regulação emocional, comunicação eficaz, resolução de problemas e fortalecimento da resiliência.

Dicas para quem precisa de uma conversa ou aconselhamento

A dra. Carmen Rezende listou recomendações para quem sente a necessidade de orientações.

  • Busque um psicólogo licenciado: Mesmo que inicialmente para poucas sessões, um profissional pode oferecer perspectivas valiosas e ferramentas práticas.
  • Considere diferentes modalidades: Além da terapia individual tradicional, existem terapias em grupo, workshops de desenvolvimento pessoal e plataformas de telepsicologia que podem ser mais acessíveis.
  • Invista em relacionamentos reais: Cultive amizades profundas e conexões familiares onde possa compartilhar sentimentos e receber apoio genuíno.
  • Explore recursos complementares: Livros de autoajuda baseados em evidências, podcasts de psicologia e aplicativos de bem-estar mental desenvolvidos por profissionais podem ser ferramentas úteis.
  • Pratique autocuidado: Estabeleça rotinas que incluam atividade física, sono adequado, alimentação balanceada e práticas de mindfulness, que têm impacto significativo na saúde
    mental. O mais importante é reconhecer que buscar ajuda é sinal de força, não de fraqueza, e que investir em saúde mental é tão essencial quanto cuidar da saúde física.

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