
A cidade de Santa Rita de Cássia, localizada no oeste da Bahia, aparece em primeiro lugar no ranking dos municípios que mais perderam área de Mata Atlântica no país. Os dados foram divulgados este mês no relatório da Fundação SOS Mata Atlântica.
De acordo com o levantamento, entre os anos de 2023 e 2024 a cidade perdeu 2.350 hectares do bioma, ou seja, cerca de 3.291 campos de futebol.
Em entrevista ao PS Notícias, Laenyo Souza, geógrafo atuante em Santa Rita de Cássia, disse que a Mata Atlântica tem sido ameaçada por diversos fatores e destaca a necessidade de uma maior fiscalização.
“Desafios ambientais como o desmatamento ilegal. Pode-se destacar a necessidade de conscientização e fiscalização ambiental mais eficiente na área, para garantir a manutenção dessas áreas remanescentes de Mata Atlântica, que por sua vez, acompanha áreas próximas do Rio Preto”, destaca Souza.
Os 10 municípios brasileiros com as maiores áreas desflorestadas concentraram 49% do total do desflorestamento registrado, localizando-se nos estados da Bahia, Piauí, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. Desses impactos, apenas 0,7% ocorreram em áreas protegidas, enquanto a expressiva maioria, 72%, foi registrada em terras privadas.
Impactos em Santa Rita de Cássia
Santa Rita de Cássia, que tem como base econômica a agricultura, já sente os impactos do desflorestamento com o avanço da pecuária e de pastos agrícolas.
Segundo o geógrafo, o desmatamento tem causado erosão e compactação do solo, perda da camada superficial do solo e atividades econômicas irregulares no percurso da bacia do Rio Preto, que integra a bacia do Rio São Francisco.
Além disso, a supressão de áreas de Mata Atlântica está diretamente ligada ao avanço da crise climática.
“A derrubada da vegetação corrobora com a emissão de CO2 contribuindo com o aquecimento global. Perda da biodiversidade, ameaça a extinção de animais e plantas, erosão do solo com a retirada da cobertura vegetal original, impactos nas comunidades ribeirinhas”, aponta Laenyo Souza.
Oeste na rota do desmatamento
Além de Santa Rita de Cássia, outras cidades da Bahia estão presentes no ranking dos municípios com maiores perdas de Mata Atlântica. Das 21 cidades apontadas no relatório, seis são baianas, o que coloca a Bahia com 33,33% de participação no desmatamento nacional.
As outras cidades apontadas foram Cariranha, Cotegipe, Brejolândia, São Félix do Coribe, Coribe e Santa Luzia. Com exceção da última, todas as cidades – incluindo Santa Rita de Cássia – fazem parte do oeste da Bahia, região em que se concentra o agronegócio no estado e o avanço da fronteira agrícola no Matopiba.
O geógrafo Evanildo Cardoso, da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), em entrevista ao PS Notícias, aponta preocupação com o desmatamento em Santa Rita de Cássia e em outras cidades da região.
“São remanescentes importantes para a biodiversidade, para a qualidade ambiental do município, assim como desmatamento que são ilegais também. Há dois lados, aquilo que é liberado, chamado supressão ou desmatamento mesmo e aquilo que é desmatado sem a fiscalização devida e autorização devida. Isso para a agropecuária, que é muito forte na região, fazendo com que esse impacto possa ser muito preocupante”, elucida o especialista.
Com o avanço do desmatamento, o clima da região tende a sofrer alterações cada vez mais rápidas, que influenciam diretamente no regime de chuvas.
“As consequências para a região são inúmeras, como a diminuição da fauna e a exposição do solo pela erosão. A pecuária extensiva, principalmente, a erosão desse solo vai provocar ravinas, pode provocar voçorocas. A questão da qualidade ambiental, do clima local, do clima regional também é impactada, visto que a vegetação original ajuda no ciclo de água de evapotranspiração e exerce um fator extremamente importante para o equilíbrio térmico”, explica Cardoso.
Desflorestamento da Bahia em cena
O relatório da Fundação SOS Mata Atlântica apontou que cinco estados brasileiros acumularam 93% do desflorestamento total do país e a Bahia aparece na liderança com 4.717 hectares perdidos, seguido do Piauí (2.936 ha), Minas Gerais (2.737 ha), Rio Grande do Sul (1.602) e Mato Grosso do Sul (1.387 ha).
Além disso, a Bahia também aparece na lista de estados em que houve aumento do desflorestamento: Bahia, Rio Grande do Sul, Ceará, Pernambuco, Goiás, Rio de Janeiro e Alagoas.
Em comparação com o relatório anterior, realizado entre 2022 e 2023, a Bahia teve um aumento expressivo de 92% de desmatamento e a intensificação de eventos climáticos extremos.
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