
Morreu aos 98 anos, na madrugada desta sexta-feira (26), Carmen Oliveira da Silva, conhecida como Mãe Carmen do Gantois, uma das principais referências religiosas do candomblé na Bahia. A ialorixá estava internada há cerca de duas semanas no Hospital Português, em Salvador, por causa de uma forte gripe.
Reconhecida por sua trajetória de fé, liderança e preservação da cultura afro-brasileira, Mãe Carmen deixa um legado histórico para o Terreiro do Gantois. Além disso, ela fica eternizada como símbolo para a religiosidade de matriz africana no país.
Filha mais nova de Mãe Menininha, a ialorixá nasceu em 1926, contudo só foi registrada dois anos depois. Na segunda-feira (29), completaria 99 anos.
Veja abaixo a nota do Terreiro de Gountois
“É com profundo pesar, respeito e reverência que a Associação de São Jorge Ebé Oxóssi comunica a passagem da Ìyáloriṣa do Ìlé Ìyá Omi Àṣe Ìyámaṣé, Mãe Carmen de Òṣàgyían.
Ìyáloriṣa, mulher de axé, guardiã da ancestralidade e herdeira de uma linhagem que pavimentou a história do Candomblé na Bahia e no Brasil.
Filha direta de Mãe Menininha do Gantois, Mãe Carmen nasceu para o sagrado. Desde muito cedo, foi formada nos fundamentos, nos ritos e nos saberes que sustenta uma nação. Sua infância foi preparação espiritual; sua vida, missão. Nada em seu caminho foi acaso, foi legado, destino, desígnio dos Orixás.
Há 23 anos à frente do Gantois, Mãe Carmen assumiu com amor, coragem e responsabilidade a condução de uma Casa que é fé, memória e identidade. Ser Ìyáloriṣa em sua presença, sempre significou cuidar, proteger, orientar e sustentar o axé com dignidade, firmeza e sabedoria, zelando pela comunidade e pela continuidade de uma tradição ancestral.
Mãe Carmen foi farol, colo, caminho e fortaleza. Sua palavra ensinava, seu silêncio acolhia, e seu fazer cotidiano era atravessado pela entrega, pelo respeito aos Orixás e pelo compromisso com a vida coletiva. Em seu corpo e em sua condução, a herança de Mãe Menininha permaneceu viva, pulsante e afirmada dia após dia.
Como Ìyáloriṣa desempenhou com dedicação e firmeza o cuidado cotidiano do axé, contando com o apoio de suas duas filhas, que estiveram ao seu lado na condução da roça, compartilhando responsabilidades, saberes e a sustentação da Casa. Mãe Carmen deixa ainda três netos e quatro bisnetos, expressão viva da continuidade, da memória e do futuro que segue sendo tecido a partir de sua presença e de seu legado.
Seu retorno ao Orun acontece em uma sexta-feira, dia consagrado a Oxalá, Orixá da criação e da serenidade, um símbolo que traduz uma trajetória marcada pela retidão, cuidado e fé. Em Oxalá, o descanso, na ancestralidade, a permanência.
Hoje, nos despedimos de sua presença física, mas afirmamos com convicção: seu axé permanece. Seus ensinamentos seguem vivos, sua missão continua inscrita na história e sua memória permanece como fonte de força, amor e sabedoria para as gerações que virão.
ASJEO”.


