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Emílio Odebrecht deixa comando de empreiteira depois de 20 anos à frente do conselho

A saída de Emílio já estava prevista em seu acordo de delação premiada.

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Após 20 anos à frente do conselho de administração de um dos maiores grupos empresariais do País, Emílio Alves Odebrecht comandará pela última vez uma reunião ordinária da empresa Odebrecht nesta sexta-feira (27). A presidência do conselho deixará as mãos da família Odebrecht pela primeira vez. A saída de Emílio já estava prevista em seu acordo de delação premiada. Mas ele poderia arrastar sua permanência no grupo ainda por bastante tempo sem infringi-lo – a delação permitia que ele ficasse por dois anos na Odebrecht.

A surpresa veio, portanto, da decisão do empresário de antecipar o movimento. Foi uma forma de tentar convencer o mercado das boas intenções do grupo para superar a Operação Lava Jato, que colocou a empresa no centro de um dos maiores escândalos de corrupção no mundo. A despedida de Emílio teve início nessa quinta-feira (26) num jantar em seu apartamento, no bairro Caminho das Árvores, em Salvador. Ali, num edifício onde moram vários membros da família Odebrecht, o empresário recebeu os atuais conselheiros e alguns executivos do grupo. Fontes ligadas à companhia preocuparam-se em justificar, mesmo sob reserva, o encontro.

Segundo pessoas próximas a Emílio, que começou a trabalhar no grupo em 1968, a intenção do empresário não foi festejar, mas agradecer aos integrantes do conselho pelo trabalho feito. O momento não é dos mais propícios a celebrações. Na quarta-feira, a construtora do grupo deixou de pagar R$ 500 milhões em títulos emitidos no exterior. Em função disso, a agência de classificação de risco Standard & Poors cortou na quinta-feira a nota de crédito global da empresa.

O conglomerado negocia com bancos novo empréstimo, de até R$ 2,5 bilhões, para cobrir essa e outras dívidas. Se não conseguir convencê-los a liberar o dinheiro nos próximos dias, a empreiteira corre o risco de ter de recorrer à recuperação extrajudicial para não quebrar, segundo executivos a par dos números. Por causa dessas negociações, Emílio poderá participar de alguma reunião extraordinária para decidir sobre o tema enquanto o novo conselho não é formado.

A saída de Emílio interrompe uma tradição de décadas na Odebrecht de planejar a sucessão do comando. Antes de substituir o fundador, Norberto Odebrecht, na presidência executiva, em 1991, Emílio ficou quase três anos como vice-presidente. Forçado pela Lava Jato a dar feição profissional ao conglomerado familiar, Emílio diz agora que deseja criar um "dream team" para o conselho de administração. Esse é o termo que vem sendo usado por executivos do grupo na esperança que o mercado assim passe a chamá-lo.

O novo colegiado terá nove assentos, sendo que seis serão de conselheiros independentes e três indicados pela família (mas sem relação de parentesco com os Odebrecht). Alguns nomes estão em negociação avançada. É o caso de João Cox, executivo com passagem pelo conselho da Estácio e atual presidente do colegiado da Tim no Brasil. Ieda Gomes, ex-presidente da Comgás, e a advogada Cláudia Prado também devem compor o grupo. Apesar das conversas em andamento, até ontem a formação completa dessa equipe não havia sido concluída. O principal nome, que é o presidente do conselho, ainda é uma incerteza. Ex-presidente do grupo e executivo de longa data da Odebrecht, o advogado Newton de Souza não se tornou delator e é o preferido de Emílio para o posto.

Estadão Conteúdo // AO