

A notícia, publicada nesta quinta-feira (8) pelo jornalista Samuel Possebon, do site Teletime, foi confirmada por fontes ligadas às operadoras e às emissoras, ouvidas pelo Notícias da TV. Interlocutores das empresas de TV por assinatura relatam terem ouvido de técnicos da Anatel que o presidente da agência, Juarez Quadros, teria determinado a produção de uma nota técnica recomendando o ressarcimento aos assinantes, o que causaria prejuízo às operadoras.
A ordem teria chegado logo após Quadros se reunir com Moreira Franco, em 24 de maio. Na véspera, três altos executivos de Record, SBT e RedeTV! conversaram com Moreira Franco e teriam combinado o apoio jornalístico e político. Entre deputados da bancada evangélica, sob influência da Igreja Universal (Record), e parlamentares donos de emissoras ligadas às três redes, a bancada da Simba teria 80 votos na Câmara dos Deputados.
Simba é o nome da empresa que as redes criaram no ano passado para negociar seus sinais digitais com as operadoras de TV por assinatura. Em março, com o desligamento do sinal analógico em São Paulo, a Simba decidiu cortar os sinais das três redes nas principais operadoras como forma de pressionar um acordo comercial.
Inicialmente, a Simba pediu R$ 15 mensais por assinante pelo conteúdo da RedeTV!, SBT e Record. Como a estratégia de confronto não deu certo (as emissoras perderam audiência e as operadoras quase não registraram queda nas assinaturas), a Simba já reduziu esse valor para R$ 1,50, conforme o Notícias da TV revelou em maio.
A pressão sobre a Anatel já vem refletindo nas negociações com as operadoras. Nas últimas reuniões, a Simba sugeriu que seria vantajoso às empresas de TV paga aceitar os R$ 1,50, porque a Anatel poderia arbitrar um valor maior. Uma das referências é uma decisão do Juizado de Pequenas Causas de Itaquera, na zona leste de São Paulo, que determinou à Net o desconto de R$ 7,50 sobre a mensalidade de uma assinante descontente com a perda de Record, SBT e RedeTV!.
Se fecharem com a Simba por R$ 1,50 por assinante, as operadoras terão um custo extra anual de R$ 342 milhões quando o país estiver 100% com TV digital. Por R$ 7,50, essa conta subiria para R$ 1,7 bilhão.
Ocorre que as áreas técnicas da Anatel, embora ainda não tenham emitido nenhum parecer oficial, não concordam com o ressarcimento aos assinantes pela perda de Record, SBT e RedeTV!.
Isso porque entendem que a legislação tratava essas emissoras, até 2011, como obrigatórias e gratuitas (as operadoras tinham que levá-las de graça aos seus assinantes). Portanto, não há o que restituir se não havia cobrança. A partir da lei 12.485/2011, as emissoras passaram a ter o direito de cobrar pelos sinais digitais, o que está sendo negociado agora.
Os relatos dos técnicos da Anatel sobre o acordo entre as emissoras e o governo Temer deixou executivos das operadoras escandalizados. Uma delas estuda a contratação de advogados criminalistas. Cogita-se também acionar o Ministério Público Federal.
Uma outra frente de pressão das emissoras no governo federal é a Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor), do Ministério da Justiça. Nesta quinta-feira (8), o Ministério da Justiça divulgou que instaurou processos administrativos contra Sky, Net, Claro TV e Oi para "apurar possíveis ofensas aos direitos dos consumidores" pela supressão dos sinais das três redes.
Procurado, o ministro Moreira Franco não se pronunciou até a conclusão deste texto. A Simba, em nota, disse que "a informação é absurda e totalmente improcedente". Ao site Teletime, Juarez Quadros, da Anatel, negou ter recebido qualquer tipo de pressão do governo federal para agir contra as operadoras e a favor da Simba.
Ao Notícias da TV, a assessoria de imprensa da Anatel disse que a única posição que tem sobre o assunto é uma nota publicada em seu site em 17 de maio. Na nota, a Anatel relata ter recebido denúncia do Inadec (Instituto Nacional de Defesa do Consumidor) questionando os direitos do consumidor diante do corte das três redes na TV paga. O Inadec é ligado ao deputado Celso Russomanno, apresentador da Record.
Reprodução: UOL


