Câncer de mama e saúde emocional: reconhecendo os impactos invisíveis

O câncer de mama é uma experiência desafiadora que envolve o corpo e a mente de forma intensa. Além do diagnóstico e do tratamento médico, a mulher enfrenta um impacto emocional profundo, muitas vezes invisível para quem está ao redor.

O medo, a ansiedade e a incerteza sobre o futuro fazem parte do processo, dando lugar à frustração diante das limitações físicas, preocupação com o próprio corpo, alterações na autoestima e na percepção de si mesma. Sentimentos como tristeza, insegurança e vulnerabilidade (que são respostas naturais e compreensíveis diante de desafios tão intensos) nem sempre são expressos abertamente; muitas vezes, são sentidos com vergonha ou culpa.

Recentemente, acompanhei uma paciente que, nos momentos em que se apresentava vulnerável, se desculpava como se expressar seus sentimentos fosse algo errado. Muitas vezes, essa reação reflete também uma pressão social que invalida emoções, sugerindo que demonstrar medos, inquietações ou angústias é sinal de fraqueza. No processo terapêutico, observa-se a importância de permitir sentir esses sentimentos, de acolhê-los sem julgamento, reconhecendo que expressar emoções não é fraqueza, mas um espaço do sentir de forma REAL. O perigo, no entanto, surge quando agarra-se à essas emoções, permitindo que elas definam sua experiência em vez de serem vividas como parte do processo de enfrentamento e ressignificação.

O tratamento modifica a rotina diária, exigindo adaptações constantes, o que pode provocar uma sobrecarga emocional, ansiedade e impactos nas relações interpessoais. Por isso, o cuidado com a saúde mental precisa caminhar em paralelo ao acompanhamento médico, A terapia individual, grupos de apoio e a rede de pessoas de confiança oferecem espaços de apoio, escuta e acolhimento, para que esta mulher possa lidar de forma mais estruturada e consciente com suas emoções.

Mesmo após o término do tratamento, muitas mulheres continuam lidando com ansiedade, preocupação com recidiva e adaptação às mudanças no corpo e na vida cotidiana. Reconhecer e acolher essas emoções é essencial para que esta mulher possa organizar sua vida diária de forma mais estruturada e consciente, mantendo cuidado com seu bem-estar físico e emocional. O cuidado psicológico não substitui o tratamento médico, mas atua de maneira complementar, oferecendo suporte para lidar com medos, compreender os próprios sentimentos e desenvolver estratégias para enfrentar os desafios do processo de tratamento.

Niliane Brito é psicóloga (CRP:-03/12433)