
O cantor e integrante da banda Olodum, Lucas Andrade, comentou nesta terça-feira (30), durante coletiva de imprensa realizada no Festival Virada Salvador 2026, sobre o reconhecimento e a valorização do grupo na capital baiana. O artista também falou sobre o papel social desenvolvido pelo Olodum ao longo de mais de quatro décadas de história.
Ao PS Notícias, Lucas destacou avanços no espaço ocupado pelo Olodum e por outros blocos afro nas políticas públicas de cultura e educação, mas afirmou que ainda há necessidade de maior reconhecimento e incentivo, tanto do poder público quanto da iniciativa privada. Para ele, o fato de esse tema ainda ser debatido evidencia que a valorização não chegou ao nível ideal.
“A partir do momento que a gente começa a perguntar sobre isso, a gente já afirma que tem que correr atrás para ser valorizado. Quando a gente parar de perguntar e de falar desses assuntos, aí a gente vai entender que a valorização chegou.”
Segundo ele, Salvador é vendida nacional e internacionalmente como uma cidade afro, mas essa imagem nem sempre se reflete em políticas estruturais permanentes.
“A cidade afro, a capital afro, é o que é vendido e exportado. A gente reconhece os avanços, mas sabe que é necessário fazer muito mais.”
Lucas também ressaltou o trabalho social realizado pelo Olodum, principalmente em comunidades periféricas, onde o grupo atua mesmo em contextos de violência. O músico reforçou que a banda entra nesses locais para falar de paz e educação.
“O Olodum tem passe livre em qualquer lugar. A gente entra de cabeça erguida em qualquer favela para falar de paz, educação e dignidade, e somos respeitados nesses espaços. Eu acho que se toda comunidade tivesse uma escola do Olodum, Salvador estaria diferente”, destacou.
O cantor afirmou ainda que “os meninos do pagode” também poderiam atuar ensinando nas periferias.
“Então, a gente precisa valorizar essa turma do pagode, pegar esses meninos do pagode, que são os blocos afros de antigamente, porque eles estão também nas periferias, e fazer com que eles ensinem a tocar bacorinha, conga e torpedo. A gente tem uma comunicação com essa galera para que as músicas tenham mais valor e mais vida”, salientou.
Apesar das críticas, o músico reconheceu ações positivas do poder público, especialmente em relação à organização do evento e às condições oferecidas aos ambulantes. Além disso, reforçou que o processo precisa ser coletivo e contínuo.
“A gente reconhece os esforços que a prefeitura tem feito. Hoje tem equipamentos mais resistentes, transporte, alimentação e apoio para que os ambulantes possam trabalhar com mais dignidade. Tem avanços, mas precisa ser geral. É um processo entre prefeitura, sociedade e cidadãos. A gente precisa falar mais e exigir mais para que os nossos sejam mais valorizados”
Projetos sociais do Olodum
Lucas destacou também a importância dos projetos sociais do Olodum e contou sua própria trajetória dentro da instituição.
“Estou aqui porque o Olodum me deu oportunidade aos nove anos de idade. Se estamos aqui hoje, é porque o projeto existe.”
Segundo ele, iniciativas como a Escola Olodum são fundamentais para a formação de crianças e jovens e contribuem para a longevidade da banda.
“Talvez, se a gente fosse só uma banda sem projeto social, já tivesse acabado. O Olodum é uma universidade de cantores e percussionistas que estão no mundo inteiro”
Lucas afirmou que o debate sobre a valorização dos blocos afro ainda precisa ser enfrentado de forma mais efetiva.
“É necessário que a gente fale, mas a gente precisa parar de pedir. Parece que toda vez que se fala, a internet está cheia de juízes, dizendo que é mimimi, como se fosse uma falácia. Mas eu acho que no dia que a gente parar de falar sobre isso, a gente vai entender que o racismo está dando um basta”, declarou.
Por fim, o cantor destacou que a luta do Olodum é por igualdade, paz e amor para todos.


