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'Escrotas e sonsas': Policiais penais denunciam assédio moral no Conjunto Penal Feminino de Salvador

Sob anonimato, uma das servidoras relatou que o conflito teve início após testemunhar uma colega sendo constrangida por outra agente

Camila Souza / Jornal Grande Bahia
Camila Souza / Jornal Grande Bahia

Um clima de medo, humilhação e desgaste emocional. É assim que policiais penais descrevem o ambiente dentro do Conjunto Penal Feminino de Salvador, localizado na região da Mata Escura. As agentes, que denunciaram ao PS Notícias uma série de episódios de assédio moral e perseguição dentro da unidade, revelam histórias impactantes e profundamente preocupantes sobre a conduta da atual gestão.

Sob anonimato, uma das servidoras relatou que o conflito teve início após testemunhar uma colega sendo constrangida por outra agente. Ao levar o caso à chefia do plantão e à vice-diretora da unidade, esperava-se um desfecho profissional. No entanto, o que veio foi uma escalada de agressões verbais e retaliações.

“Ocorreu uma reunião para tratar da denúncia. Contudo, a vice-diretora passou a nos tratar de forma exaltada e desrespeitosa, nos chamou de ‘escrotas, sonsas’. A partir desse episódio passamos a sofrer retaliações sistemáticas. Também passamos a sofrer uma série de acusações infundadas”, contou a denunciante.

As policiais penais denunciam que a gestão tem atuado de forma autoritária e emocionalmente abusiva, transformando a rotina já tensa da profissão em um ambiente insustentável.

“A profissão de policial penal já é estressante por si só. Isso se soma à necessidade de conviver com uma gestão que, ao invés de promover um ambiente de trabalho saudável e cooperativo, opta por práticas de assédio e perseguição”, desabafa uma das servidoras.

Além do ambiente hostil, as denunciantes alertam para a atribuição irregular de funções. Segundo elas, a direção tem exigido que agentes femininas realizem escoltas de presas, uma função que, segundo a Lei Orgânica nº 13.201/14, deve ser realizada por policiais militares.

Documentos obtidos pelo PS Notícias mostram que ao menos uma das denúncias já foi formalmente encaminhada à Corregedoria da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) e está sendo apurada por meio de sindicância interna.

Danos à saúde e colapso emocional

O impacto psicológico do ambiente tóxico também tem deixado marcas profundas na saúde das agentes.

“Tenho múltiplas entradas no Hospital Santa Izabel com quadro de pressão alta. Todas elas levadas ao conhecimento da direção do Conjunto Penal”, afirmou uma das servidoras.

O caso acende um alerta para as condições de trabalho dentro do sistema penitenciário feminino da Bahia. Enquanto aguardam providências da Secretaria de Administração Penitenciária e o desfecho das investigações, as policiais seguem em serviço, muitas vezes em silêncio, carregando no corpo e na mente os reflexos de um ambiente que deveria protegê-las — e não adoecê-las.

O que diz a Seap?

A equipe do PS Notícias entrou em contato com a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap). Em nota, a pasta informa que atua estritamente dentro dos limites legais e normativos que regem o sistema prisional baiano, prezando pela legalidade, impessoalidade, moralidade e eficiência na administração pública.

Quanto a denúncia de assédio moral, a Seap esclareu que “que toda e qualquer queixa recebida é tratada com seriedade e encaminhada aos órgãos competentes para apuração, assegurando o devido processo legal”.

A Seap ainda informou ainda que a saída de presos para atos externos será realizada com escolta da Polícia Militar. Entretanto, os agentes penitenciários podem acompanhar, conforme estabelece o Estatuto Penitenciário da Bahia.

“a participação da Polícia Penal nessas atividades está em consonância com os princípios da legalidade e da continuidade do serviço público, especialmente quando envolvem a segurança e a integridade das custodiadas”, diz o texto.

Quanto a sindicância interna aberta para apuração dos fatos. A Seap esclareceu que “sua instauração visa exclusivamente apurar fatos específicos de servidor insatisfeito, não sendo indicativo de culpa ou prática irregular por parte da gestão”.