A vereadora Eliete Paraguassu (Psol) e o vereador Sandro Filho (PP) voltaram a protagonizar uma discussão no plenário da Câmara de Salvador. Durante sessão ordinária realizada na tarde desta terça-feira (5), o embate se instalou após o legislador apresentar uma denúncia em que a vereadora é apontada como dona de uma obra irregular na comunidade de Porto dos Cavalos, na Ilha de Maré.
Eliete é uma quilombola e pescadora da comunidade de Porto de Cavalos, um dos cinco quilombos da Ilha de Maré. Na Câmara, ela tem feito relatos frequentes de crimes ambientais na ilha em que nasceu e em outras localidades do entorno.
Ao subir à tribuna da Casa, o vereador Sandro Filho fez o relato de que recebeu uma denúncia de obra irregular na comunidade quilombola. Sem citar nomes, atribuiu a intervenção a uma vereadora que combate o racismo ambiental na Câmara. Ele também disse que a legisladora tem o “mandato das águas”, lema que Eliete Paraguassu utiliza em sua atuação como vereadora.
“Eu recebi a informação de que uma obra está sendo feita e que possivelmente viola normas ambientais. A denúncia vem da comunidade Porto dos Cavalos, e pasmem, acreditem se quiser, parece que a obra pertence a uma vereadora aqui da Câmara. Ela que diz defender o meio ambiente. Ela que defende a pauta do racismo ambiental, como se existisse. Eu recebi essa denúncia diretamente da comunidade de Porto dos Cavalos e precisamos investigar o quanto antes”, disse Sandro Filho em discurso.
Em seguida, o vereador do PP solicitou à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano que investigue a denúncia. “Peço que vá nesta obra e, se constatada irregularidade, que seja embargada”, solicitou.
Sandro Filho ainda pediu que a Câmara de Salvador adote providências diante da denúncia. Por fim, o legislador apontou possível incoerência nas atividades da colega de Legislatura.
“O que está acontecendo aqui é que tem uma vereadora cometendo, aparentemente, um crime ambiental, mas sobe neste plenário aqui quase que todos os dias para dizer que o mandato das águas está lutando a favor do meio ambiente da cidade. Mas ela não vai dizer que tem uma obra no nome dela possivelmente violando as leis ambientais”, atacou.
Reação de Eliete Paraguassu
Após o discurso de Sandro Filho, Eliete Paraguassu foi à tribuna da Casa e relatou que o “grande empresariado” está cometendo crimes ambientais nas ilhas de Salvador. Disse que Ilha de Maré possui 21 poços de petróleo e apresenta degradação ambiental.
Posteriormente, ainda na tribuna, convidou os colegas vereadores para que visitem as ilhas pertencentes a Salvador para que conheçam as consequências do racismo ambiental.
“Quero reafirmar aqui o compromisso do mandato popular das águas e convidar os vereadores que queiram ir, se juntar ao movimento de pescadores e marisqueiras, fazer essa visita nestas regiões. Assim, cada um vai ter noção do que é racismo ambiental, a consequência dele e o quanto as áreas de manguezais estão sendo suprimidas para dar lugar ao grande capital. Os empresários chegam à região e roubam a dignidade das pessoas”, reagiu a vereadora do Psol.
Por fim, Eliete Paraguassu disse, sem citar nome, que a Câmara tem “capitão do mato” em atividade.
“É importante dizer que ainda existem os capitães do mato que cumprem um papel vergonhoso, humilhante, nesta cidade. A gente se depara, no século 21, com capitão do mato dentro, aqui, de um espaço em que não deveria estar. Fica aqui fazendo esse papel ridículo que existia há muito tempo”, arrematou.