Casa de Oxumarê

Integrante de torcida organizada do Bahia picha muro de terreiro na Vasco da Gama

Ato de vadalismo aconteceu momentos antes do clássico BAxVI

Foto: Reprodução/TV Bahia
Foto: Reprodução/TV Bahia

Um integrante da Bamor, torcida organizada do Bahia, pichou o muro de um dos terreiros de candomblé mais antigos do Brasil: a Casa de Oxumarê, localizada na Avenida Vasco da Gama, em Salvador (BA). O caso aconteceu neste domingo (18), dia de clássico entre Bahia e Vitória.

O homem que praticou o vandalismo escreveu “TOB” na parede, sigla que representa a torcida, horas antes do início da partida.

No Brasil, a pichação é considerada crime ambiental, conforme o artigo 65 da Lei 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais). A ação pode acarretar em pena de detenção de três meses a um ano, além de multa.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tombou a Casa de Oxumarê como patrimônio histórico e cultural do Brasil em 2013.

Em nota, o perfil oficial do terreiro lamentou o ocorrido. Em texto compartilhado nas redes sociais, a instituição lamentou a violência e a classificou como “vandalismo contra um espaço sagrado”.

Veja nota completa:

“A Casa de Oxumarê – Ilê Oxumare Araka Axe Ogodo, um dos mais antigos e respeitados templos de Candomblé do Brasil, vem a público manifestar sua profunda indignação e repúdio ao ato de vandalismo cometido contra seu espaço sagrado. Imagens flagraram um integrante da Torcida Organizada Bamor (TOB) promovendo uma pichação em nosso muro, um ataque que não apenas fere as paredes físicas de nossa casa, mas também macula os alicerces de nossa fé, nossa ancestralidade e nossa história.

Fundada no século XIX, portanto bicentenária, a Casa de Oxumarê é um símbolo da resistência negra em solo baiano, uma guardiá dos saberes ancestrais e dos mistérios que atravessam gerações. Reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), desde 2013, e pelo Instituto do Patrimônio Artístico é Cultural da Bahia (PAC), desde 2004, o Iê representa um santuário de fé, tradição e luta pela preservação das raízes africanas em nosso país.

Este ato de depredação, cometido sob o signo da intolerância e do desrespeito, é um crime previsto na Lei Federal nº 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais), Art. 65, que criminaliza a pichação ou qualquer forma de destruição de bens tombados. Mais do que um crime ambiental, trata-se de um atentado contra a liberdade religiosa, garantida pela Constituição Federal de 1988, em seu Art. 5º, inciso Vl.

Atos como este não se restringem ao concreto das paredes, eles ecoam no tecido social, perpetuam preconceitos e fortalecem as estruturas de racismo religioso que tanto lutamos para combater. Não é apenas uma pichação. Contribuem com as recorrentes tentativas de apagar símbolos da cultura negra, é a expressão de uma intolerância que se esconde em camadas de violência simbólica e física.

A Casa de Oxumarê clama por respeito, ética e apela bons costumes! A destruição de um patrimônio sagrado revela a urgência de um compromisso coletivo com os valores que sustentam uma sociedade justa e harmônica. O respeito à«diversidade religiosa, à cultura do povo negro e aos espaços sagrados é um dever de cada cidadão. Manter o diálogo e a convivência pacífica entre diferentes expressões de fé é um sinal de civilidade e dignidade humana.

Exigimos retratação pública por parte da Torcida Organizada Bamor, bem como medidas concretas para a conscientização de seus membros sobre o valor dos patrimônios afro-brasileiros e o respeito às religiões de matriz africana. Não se trata apenas de reparar um erro, mas de reafirmar o compromisso com os princípios éticos e com o respeito mútuo, bases essenciais para a convivência em sociedade.

Oxumarê é o orixá que renova, que traz o arco-iris após a tempestade. Que este episódio seja um marco para relembrarmos 1a importância da diversidade religiosa, do respeito ao sagrado e da proteção aos espaços de culto afro-brasileiros. Que a sabedoria dos nossos ancestrais guie nossos passos e fortaleça nossa resistência. Resistiremos, como sempre fizemos, de pé e cantando para os Orixás.”

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